Um poema do poeta Rui Costa do seu novíssimo livro O pequeno-almoço de Carla Bruni

















O Rui Costa é dos poetas portugueses que mais admiro. Tive a sorte de há pouquíssimo tempo ter podido conhecê-lo e trocarmos algumas ideias. Trouxe comigo um exemplar assinado de O Pequeno-almoço de Carla Bruni (vide aqui a crítica ao livro pelo nosso amigo Fernando Esteves Pinto). Não resisti a colocar este poema aqui. Espero que gostem.


Senhora de Londres escolhendo Limões

Não, nem todo o limão é amarelo quando
A mão de alguém o toca e humaniza, pequeno deus
Aos tombos do céu de um pensamento manual e
Exigente. Às vezes, quando a sede não é muita,
Um do fundo é erguido à altura do olhar e então,
Por mágica rotação da sorte que nos astros se reflecte,
Encontra uma outra luz na mão que o recebe e deposita
Em morada assaz prosaica e de plástico. Na vida,
A caminho do futuro que ele nunca saberá onde fica,
O limão continuará a ser inteiro
E o seu sumo continuará a ser sumo,
Pela mesma sábia razão por que a história dos homens
É sempre muito maior do que eles.

Rui Costa
in O Pequeno-Almoço de Carla Bruni
Punta Umbría, 2009

Colecção Palavra Ibérica

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